01
Eu estava no velório do
velho Anderson Baum, a viúva tinha colocado um lenço branco sobre o rosto do
morto. Fazia um calor dos diabos e a pequena capela parecia um forno. O único acesso
e entrada de ventilação era a porta, não tinha nenhuma janela. O caixão no meio
da peça, com a cabeceira encostada na parede, e a parte dos pés voltada para a
porta. As moscas teimavam em posar sobre o lenço, uma mulher passava o tempo todo
espantando as. Percebi que a noite ia ser longa. Fiquei sentado na primeira
fileira de cadeiras a direita do velho Anderson, moscas, mosquitos, choros e
lagrimas completavam a cena fúnebre. Um sujeito entrou na capela e sentou ao
meu lado, apenas senti o vulto, continuei olhando para o caixão e com os meus
pensamentos meio soltos.
- Foi um bom sujeito? –
perguntou com a voz seca e áspera. Parecia que fazia tempo que não falava. Eu continuei
com os meus pensamentos.
- Um bom sujeito – disse.
– Huuumm...
- Parece estar tranquilo –
ele disse. – Faz parte da vida.
Uma voz estranha que me
deixava com horror, de fato.
- Um bom sujeito? – eu disse.
– Você é amigo dele ou parente?
- Digamos que tínhamos alguns
negócios juntos. Ele disse.
Fixei mais o olhar no
caixão, tinha uma mosca pousada na ponta do nariz, e uma mancha amarelada no
lenço branco, onde deveria estar à boca.
- Como sabia?
- Não importa. É apenas
uma observação.
- Eu o conhecia a muitos
anos. Sempre pareceu ser uma boa pessoa.
- Uma boa pessoa. Isto é
bom. Às vezes as pessoas não são exatamente o que aparentam ser.
- Nunca lhe vi por aqui
antes.
- Você pode não ter
notado, mas sempre estive aqui.
- Onde?
- Na cidade, nos lugares,
em seu bairro. Aqui!
- Então porque eu nunca
lhe vi?
- Porque primeiro quero
saber de você se ele era um bom sujeito. Preciso ter certeza, toda a certeza.
- Mas porque eu tenho que
lhe dizer? Pergunte a viúva, ou a outro parente.
- Ele deixou o seu nome
no testamento.
- Você é o advogado dele?
- Não exatamente.
- Ah, então quem você é?
O que você esta querendo com esta conversa?
- Saber se ele era um bom
sujeito.
Ficamos calados, enquanto
a mosca caminhava com suas patinhas sobre o lenço, descendo do nariz em direção
à boca.
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