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DICA DO DIA

segundo capitulo - novela - negociante de almas - Röhrig C. - lançamento 2015 - livro


02
Ele levantou.
Ajeitou o casaco. Um casaco cinza, com um caimento impecável, obra de um bom alfaiate. Parecia ter sido feito sobre medida o terno. Estava usando uma camisa branca, gravata cinza e sapatos pretos. Os sapatos mais bem lustrados que eu já vi. Nem um sinal de poeira, impecável. Deu uma olhada em volta, observando todos que estavam na capela. Tirou um relógio de bolso, verificou as horas.
- Já está indo – eu disse.
Ele virou-se e ficou me olhando, parecia estar me analisando e pensando nas palavras mais adequadas para me responder.
- O enterro vai ser amanhã no final da manhã – eu disse.
- Você fuma, me empreste o isqueiro amigo.
- Como você sabe? Não importa. Eu também estou precisando fumar um cigarro, vamos ali fora.
Apesar do calor, a noite estava agradável. Do lado de fora até corria um ar, uma brisa fraca e refrescante.
- Posso saber o seu nome?
- Ângelus, e o seu é Pedro Rodríguez.
- Acertou – eu disse – Ângelus, já que não é advogado. É contador? Corretor? Trabalha em algum escritório?
- Não.
- Anda aqui na região, mas você não é daqui?
- Não sou.
- E como conheceu o finado?
- Não importa. Vamos mudar de conversa.
- Só estou tentando manter um dialogo...
De algum modo, ele não queria falar a seu respeito. Tirei o isqueiro do bolso e aproximei de seu cigarro. Deu uma boa tragada e jogou a fumaça pra cima. Acendi o meu e fiquei olhando a noite. O céu estava estrelado.
Ele tirou o cigarro da boca e tossiu.
- Hum? – olhei para ele.
- Estou tentando parar, - ele disse – sabe como é, vicio antigo.
- Sei sim, claro.
Dei um chute numa pedra que estava na frente do meu sapato, ela rolou alguns metros.
- Você fuma a muito tempo?
- A muito tempo – ele sorriu. – ele era um bom sujeito?
- Ééé, claro.
Tive que dizer que o finado era um bom sujeito. Ele Estava fixo na ideia de saber, ou de me ouvir dizer. Sujeito estranho. Não parecia ser o tipo de pessoa que poderia ter algum negocio ou ligação com o velho Anderson.
- Está certo, senhor...
- Ângelus – ele disse.
- É – eu disse. – Mas o que é mesmo Ângelus. Qual era o negocio que vocês tinham? Onde mesmo vocês se conheceram?
- Bem, digamos que desde muito cedo, de quando o Anderson ainda nem tinha aonde cair morto....imagine um sujeito pobre. Muito pobre. E, é desde essa época que nos conhecemos.
- Não consigo imaginar o Anderson pobre, sempre o conheci esbanjando dinheiro.
- É – ele disse. – Nem sempre foi assim. Ele foi um sujeito muito pobre e miserável, a vida dele mudou depois que fizemos alguns negócios. Você não deve saber, mas ele é natural daqui da cidade mesmo. Passou um tempo fora ganhando dinheiro e prestigio e depois resolveu voltar. Foi um erro ter voltado, poderia ter aproveitado mais.
- Estou surpreso, não podia nem imaginar, que ele é natural daqui. Nunca falou nada. E, eu o conheço a mais de quinze anos.
- Eu sei, ele não queria ter a sombra do passado pobre. Resolveu esconder tudo.
- Tem certeza de que estamos falando da mesma pessoa?
- Ah, sim.
- Então porque eu nunca lhe vi antes, e porque ele escondeu o passado de mim. Éramos os melhores amigos, praticamente irmãos.
- Não sei. Cada pessoa reage de uma maneira diferente depois que atinge o sucesso. Vai ver ele tinha medo de voltar a ser pobre. Se alguém soubesse do passado dele. Tem coisas que não se explicam.
- E acha? Que ele conseguiu ser feliz, dessa forma. Se escondendo.
- Não me preocupo muito com a felicidade alheia, não me importo.
- Mas quer saber se ele era um bom sujeito?
- Uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Tudo bem, Ângelus. Eu vou lhe dizer, mais uma vez.
- Quero ter certeza, seja muito honesto com sua resposta. Não pode ter nenhuma duvida.
- E, se eu tiver duvida?
- Você não pode ter, eram os melhores amigos. Você mesmo disse. Eram como irmãos.
- E eu não sei?
- Preciso de uma resposta honesta, esperei muito tempo. Ele disse.
Largou a bagana do cigarro no chão. Pisou com o bico do sapato, como se estivesse esmagando um inseto. Ficou ali olhando para baixo enquanto a brasa se apagava por completo.

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Forma ou fôrma - qual o correto?

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