Logo que Viagem ao fim da noite foi publicado, em outubro de 1932, o escritor Georges Bernanos percebeu, arguto, que seu autor Louis-Ferdinand Céline fora criado por Deus para escandalizar. Por sua linguagem popular e desabrida, até então desqualificada pelos escritores de bem, pela violência com que seu herói Ferdinand Bardamu denunciava a torpeza da sociedade, o romance de estreia de Céline, um médico de 38 anos, de fato escandalizou. Viagem conquistou uma legião de fãs tão diversos quanto Henry Miller, que confessou ter reescrito Trópico do Câncer depois de lê-lo nas provas tipográficas, e Joseph Stálin, que o elegeu como livro de cabeceira. Nos meses que se seguiram ao lançamento o romance mereceu nada menos de cem artigos entusiastas ou indignados. Em um ano as vendas se aproximavam dos cem mil exemplares e estavam a caminho as primeiras traduções, para o tcheco, o inglês, o holandês e o russo, esta feita por Elsa Triolet, mulher do poeta comunista Louis Aragon. Porém, o endeusad